A ESCALA DE AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS COMUNICATIVAS
Na linguagem, a pragmática representa o conjunto de competências que permitem que as pessoas usem a linguagem de forma adequada e de acordo com diferentes situações comunicativas(Cummings, 2017).
A Escala de Avaliação de Competências Comunicativas (EAC) pretende identificar de forma atempada alterações ao nível do uso da linguagem (pragmática) em crianças dos quatro aos oito anos de idade. As competências pragmáticas a desenvolver nestas idades centram-se no uso de funções comunicativas mais diversificadas e complexas, no aumento dos turnos de conversação, na capacidade de adaptação ao ouvinte e ao contexto, no uso correto de deíticos, na utilização de narrativas mais longas e com mais pormenor. Em idade escolar verificam-se competências no uso e compreensão da linguagem figurada e atenção às expressões faciais e às características prosódicas do discurso (Almeida & Rocha, 2009; ASHA 2021; Cummings, 2009; Dewart & Summers, 1995).
Os testes de avaliação psicométricos têm um papel fundamental na identificação de crianças com perturbações da linguagem, uma vez que permitem observar aspetos da função da linguagem num ambiente padronizado e relacionar esse desempenho com dados normativos (Bishop & McDonald, 2009). Estes testes fornecem ferramentas mais válidas e eficientes para identificar dificuldades de linguagem clinicamente significativas (Bishop & McDonald, 2009).
Os métodos de avaliação mais utilizados para avaliar a linguagem são os testes estandardizados, escalas de desenvolvimento ou checklists realizadas por profissionais especializados. Contudo, os inventários parentais também podem oferecer dados com informações tão fiáveis como os obtidos pelos profissionais, uma vez que os pais acompanham o desenvolvimento da criança nos seus diversos contextos (Bishop, 2003; Bishop & McDonald, 2009). Em comparação com os testes estandardizados aplicados diretamente às crianças, o relato dos cuidadores pode dar informação diferente no momento da avaliação, principalmente quando a criança é tímida ou a presença de um avaliador afeta os padrões comunicativos usuais da criança (Bishop, 2003).
A EAC foi realizada nos moldes de um inventário parental, com o intuito de obter informações detalhadas através de pais/cuidadores e educadores/professores, relativamente aos comportamentos comunicativos das crianças, nos seus diversos contextos.
Assim, através da EAC é possível recolher informação mais precisa e capaz de identificar possíveis alterações nas competências comunicativas, tendo em conta os diferentes contextos da criança.
OBJECTIVO
– Identificar dificuldades no uso da linguagem, em crianças dos quatro aos oito anos de idade
– Identificar alterações pragmáticas em crianças com Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL) e com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA)
DESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO
Este instrumento está dividido em 8 dimensões (tabela 1) que avaliam o uso da linguagem de uma forma mais pormenorizada, comparativamente aos instrumentos de avaliação da linguagem já existentes. As dimensões foram delineadas considerando as principais etapas do desenvolvimento típico da pragmática dos quatro aos oito anos de idade, bem como características especificas das perturbações ao nível da pragmática.
Cada dimensão contém afirmações que descrevem o comportamento da criança no que respeita às suas competências de comunicação: 1- Intenções Comunicativas (14 itens), 2- Competências de Interação (9 itens), 3- Resposta em Contextos Comunicativos (3 itens), 4- Compreensão em Contextos Comunicativos (4 itens), 5- Coerência no Discurso (5 itens), 6- Coesão no Discurso (2 itens), 7- Compreensão e Uso de Linguagem Não Literal (6 itens) e, por fim, 8- Aspetos Paralinguísticos (2 itens). Assim, a EAC contempla 45 itens.
Tabela 1. Dimensões da EAC.
Para cada afirmação, deverá ser assinalado com que frequência esse comportamento está presente no dia-a-dia da criança. O tempo médio de preenchimento da EAC é de 10-15 minutos.
COTAÇÂO
A EAC constitui um inventário parental, com uma linguagem simples e direcionada para pais, cuidadores, educadores e/ou professores. Para responder à EAC, deve ter-se em conta a frequência com que a criança apresenta o comportamento descrito em cada item e este deve ser pontuado, numa escala de tipo Likert, com uma variação de 1 a 4. A pontuação máxima da EAC é de 180.
Tabela 2. Cotação da EAC.
POPULAÇÃO-ALVO
A EAC procura auxiliar na identificação de alterações nas competências de compreensão e expressão a nível pragmático, em crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 8 anos.
QUEM PODE RESPONDER
Esta escala foi desenvolvida para ser preenchida pelos pais ou por uma pessoa com contacto regular com a criança (e.g., educadores e/ou professores que acompanham o desenvolvimento da criança). Ela pode ser preenchida simultaneamente pelos pais/cuidadores e pelos educadores/professores, conseguindo uma melhor caracterização da criança nos seus diferentes contextos sociais.
PROFISSIONAIS QUE PODEM APLICAR EAC
A interpretação dos resultados obtidos através do preenchimento da EAC deve ser realizada por um profissional capaz de identificar dificuldades/ alterações nas principais etapas do desenvolvimento da pragmática, tento em conta a norma. Assim, a EAC deve ser interpretada por terapeutas da fala, psicólogos e pediatras.
ESTUDOS DE VALIDAÇÃO
A EAC apresenta dados normativos para crianças com desenvolvimento típico da linguagem (ver Tabela 3):
Tabela 3. Média (M), desvio-padrão (DP), mínimos e máximos para a amostra de crianças com desenvolvimento típico.
Tabela 4. Percentis para a amostra de crianças com desenvolvimento típico.
A EAC apresenta ainda dois estudos de validação para crianças com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) e crianças com Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL), com afeção no domínio da pragmática:
– “Escala de avaliação de competências comunicativas: contributos para a validação na perturbação do espectro do autismo” (Oliveira, 2022)
Tabela 5. Média (M), desvio-padrão (DP), mínimos e máximos para a amostra de crianças com PEA.
Tabela 6. Percentis para a amostra de crianças com PEA.
– “Escala de avaliação de competências comunicativas: contributos para a validação na perturbação do desenvolvimento da linguagem” (Machado, 2023)
Tabela 7. Média (M), desvio-padrão (DP), mínimos e máximos para a amostra de crianças com PDL.
Tabela 8. Percentis para a amostra de crianças com PDL.